26 de maio de 2016

Existe vida sem internet?


Qual é a senha do Wi-Fi? Talvez essa seja a pergunta mais feita dos últimos tempos. As gerações passadas são testemunhas de um mundo sem tecnologia. Desde o surgimento da internet, no final dos anos 80, e a chegada do celular no Brasil, na década de 90, esses recursos nos trouxeram grandes benefícios e facilitaram as nossas vidas diminuindo o tempo e encurtando a distância. Num período em que o mundo real e o virtual se confundem, a dúvida que fica é se somos salvos ou reféns da tecnologia. Viver sem internet parece algo impossível, mas tem gente que tira isso de letra. Veja o que diz um grupo de jovens e idosos: 

Tempo livre dedicado à música

A professora aposentada Doris Gressler, 78, não aderiu às redes sociais por falta de tempo e porque elas não lhe atraem e não fazem seu perfil. "Tempo livre é algo que não existe em minha vida. Passo o dia todo atendendo a compromissos, alguns previstos, outros imprevistos, que exigem a minha dedicação", explica. Doris participa de dois corais, um particular com amigos e outro na Igreja Evangélica de Confissão Luterana, onde se apresenta todos os domingos. "Eu toco teclado, piano e harmônio", conta a aposentada, que pesquisa partituras na internet.

Doris se restringe a apenas um e-mail e questiona os jovens que acham que não tem lazer em Cachoeira. "Na minha época a gente se contentava em conversar, caminhar na praça e ir ao cinema Coliseu e Astral, que era o maior entretenimento", conta. "Como eu sempre gostei muito de música erudita, nós nos encontrávamos no Centro Cultural para ouvir e comentar sobre música em grupo e estudar piano. Cada um levava seus discos de vinil", lembra. A aposentada reconhece que o mundo dos jovens de hoje é completamente diferente. "Eles devem achar um horror o entretenimento da época, uma monotonia, mas tinha mais sensibilidade entre as pessoas e um contato mais direto, diferente de hoje, que todos estão perto, mas ao mesmo tempo distantes. A vida era mais simples", afirma.

Internet para auxiliar os estudos

A estudante da Escola Estadual Borges de Medeiros Carina Silveira Pereira, 16, Broto Simpatia de 2014, diz que passa praticamente o dia inteiro na internet porque estuda diferentes idiomas e se comunica com o namorado pelas redes sociais durante a semana desde que ele mudou de cidade para estudar Engenharia em Lajeado, há um ano. Carina aprendeu a falar inglês e chegou a estudar alemão pela internet, mas parou para começar a estudar japonês, pois ela vai fazer intercâmbio no Japão no segundo semestre deste ano representando o Rotary Arrozais.

Sem redes sociais para preservar o relacionamento


Franciele dos Santos, 26, estudante, decidiu cancelar o Facebook há dois anos quando percebeu que a rede social estava ocupando muito do seu tempo e prejudicando seu relacionamento. Se o Facebook lhe faz falta, ela afirma: "Fazer falta até faz por ficar de fora de algumas novidades, mas decidi me preservar". No entanto, a jovem continua acessando a internet normalmente. "Fico atualizada, baixo música e tenho um e-mail", conta. Em outros tempos, ela lembra que chegava do trabalho e ia direto para o computador. Hoje ela faz caminhada e consegue tomar um chimarrão com as amigas no tempo livre. Fran, como é chamada, não acha nada interessante ficar no celular enquanto se está na presença de alguém. "Aconteceu várias vezes de almoçar com outras pessoas e elas ficavam o tempo todo no celular. Acho falta de educação", diz. A estudante acredita que faça falta a internet, mas assegura que existe vida fora dela sim. "Hoje consigo ter uma vida mais produtiva", conclui.

Redes sociais para divulgar o trabalho

O editor de vídeo e estudante de Cinema da Unisinos Vinícius de Barros Gonçalves, 18, utiliza a internet como uma forma de entretenimento e para matar a saudade da namorada, da família e dos amigos. Também para buscar conhecimento e divulgar seu trabalho, mas não conta o tempo que fica conectado. Vinícius gerencia o canal do YouTube The Fuel BMX, voltado ao esporte BMX (também conhecido como bicicross). "Temos como objetivo difundir o esporte, que ainda é pouco conhecido no país", explica. Ele costuma acessar as redes sociais pelo celular e pelo notebook, mas reconhece: "A internet não é algo trivial em nossa vida".

Redes sociais sim, mas com moderação 

Quando entrevistada, a aposentada Ana Maria Carrazzoni, 64, estava conectada ao Facebook, como ela faz diariamente para se comunicar com os amigos. Ela também usa o Instagram para adicionar fotos e o WhatsApp para fazer ligações e enviar mensagens. Ana afirma que a tecnologia tornou tudo mais rápido e prático. "Antes a vida era muito chata. Para se comunicar com uma pessoa longe só através de carta, e era mais difícil. A gente precisava pegar um carro ou ir caminhando. O telefone era aquele antigo de discagem e o orelhão. O que hoje a gente faz em minutinhos antes levava horas", lembra a aposentada, que se declara apaixonada por tecnologia. "Hoje a gente resolve tudo em tempo e na hora", pensa.

Ana acredita que existe vida fora da internet. "Eu sei distinguir os horários e como entrar. Se eu saio com o meu marido para jantar eu levo o celular junto, mas fica guardadinho na bolsa. Se tocar eu atendo", afirma. A aposentada diz que não costuma ficar em locais públicos ou em uma roda de amigos usando o celular. "Esse problema eu não tenho. Às vezes vejo as pessoas isoladas com o celular no meio de uma turma de amigos e nos bailes de terceira idade senhoras sentadas à mesa mexendo no celular e dançando com ele na mão", conta.

Fonte: Revista Linda - ano 9, nº 101, abril 2016 (adaptado).

Texto: Gabriel Rodrigues.

Revisão: Marielle Rodrigues de Oliveira.

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