18 de julho de 2015

Resistindo ao dia mau

O título é autoexplicativo, nem preciso de muitas delongas para explicar aquele dia que tudo dá errado e nada faz sentido. Neva na praia, faz calor no Polo Norte, o palhaço chora, o mal humorado sorri, o político corrupto faz uma boa ação, o supermercado deixa todos os produtos grátis, você acaba de ganhar na loteria, o rico doa metade da fortuna aos pobres, os Beatles estão voltando, Elvis Presley está vivo, Silvio Santos vira presidente, você acha uma mala cheia de dólares, chove batata frita, mergulha numa piscina de Nutella, faz pipoca sem queimar o fundo da panela, ganha bolsa em Harvard, a vaca pode até tossir. Enquanto isso, lá está você, vendo o impossível acontecer bem debaixo do seu nariz. E o que você pode fazer? Apenas relaxe!


CRÔNICA (texto fictício):

O dia começa assim, dando um problema atrás do outro. O que faz pensar que a melhor parte do dia é no momento em que ele acaba quando a gente levanta com o pé esquerdo da cama. 

Acordei com o ressoo do despertador tocando aquela famigerada musiquinha irritante, desviro o chinelo, procuro o outro par escondido debaixo da cama empoeirada e acabo inalando toda a poeira. Logo, tenho uma crise de espirro. Ligo a TV, enquanto preparo o café. O leite derrama sobre o fogão. O café acaba. As manchetes do dia só trazem desgraças e catástrofes, nada encorajador para sair de casa. Saindo do banho, acidentalmente caí com tudo no chão escorregadio. Meu dente quebrou. Faltando meia hora para o horário de trabalho, saí às pressas de carro com o combustível no tanque de reserva. Levei uma multa por estacionar em local proibido. O dentista está de férias para o Caribe. Decidi pegar um caminho diferente, mas ele está bloqueado. Fiquei preso no engarrafamento durante incontáveis minutos. Nisso, alguém bate na traseira do carro. Esclareci a situação com o entregador de pizzas e peguei o número de telefone. Deixei o carro na oficina para o conserto. Peguei um táxi, que anda devagar propositalmente. A corrida chegou a custar o equivalente a uma volta de limousine importada com direito a champanhe. Cheguei com meia hora ou mais de atraso no trabalho. O chefe anuncia a minha demissão. E não adiantou implorar, nem nada.

Cabisbaixo, revirei os bolsos em busca de alguma moeda perdida para pegar um ônibus na volta para casa. O tempo fechou em questão de segundos e veio uma tempestade de repente. A parada de ônibus estava lotada de gente que estava se abrigando da chuva. Tentei me aproximar de alguém com guarda chuva. Passam todos os ônibus, até onde o diabo perdeu as botas, menos o meu. Fiquei esperando por cerca de duas horas e, de quebra, tomava um "banho" toda vez que um veículo passava por cima de uma poça d'água. Quando o ônibus finalmente chega, ele está lotado. Vou em pé, apertado no meio da multidão. A Lei de Newton que diz: "Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço", deixa de fazer sentido quando você pega um transporte público. Para chegar inteiro no ponto de desembarque é uma luta pela sobrevivência. É preciso segurar firme para não cair com as freadas e aguentar possíveis empurrões durante o trajeto. 

Depois de horas sem comer, decidi passar na lanchonete da esquina para comer um hambúrguer. O cartão de crédito não estava passando. Olhei dentro do bolso e não vejo nenhum tostão. Fui obrigado a lavar a louça para pagar a conta. No retorno, avistei um anúncio colado na parede. Era uma vaga de emprego. "Não posso perder essa oportunidade", pensei. Chegando em casa, pisei no cocô do cachorro do vizinho que insiste em fazer suas necessidades no meu gramado. Tirei os sapatos sujos, a roupa molhada e a meia ensopada, revisei o dente quebrado, separei as despesas do mês e percebi que não tinha como pagar tudo. "E agora? Ainda dá tempo de passar na empresa", disse em voz alta. 

Peguei a lambreta emprestada do vizinho, sem saber direito o endereço, saí debaixo da chuva intensa, dando voltas e voltas procurando. Mas cheguei lá, completamente encharcado, com o currículo em mãos, e subitamente consternado com a situação. Fui encaminhado para a sala de entrevista e, logo de cara, recebi um questionário com perguntas difíceis. Para o meu desespero, a água da chuva descia pelos meus cabelos e caía em cima da folha de respostas, molhando tudo ao redor, em frente ao recrutador. "Se fui bem ou mal, não sei, a minha parte eu fiz. Agora é esperar para ver", murmurei. Chegando novamente em casa - "Ufa, o que mais pode acontecer?" - o telefone começa a tocar e atendo empolgado esperando um retorno imediato da empresa. "Alô, é da oficina! Fiz o orçamento do reparo do seu carro", disse o mecânico. "Tudo bem. Quanto custa?", perguntei. "Trezentos reais!". "O entregador que bateu no meu carro ficou responsável pelo pagamento", avisei prontamente. "Sim, só que esse número de telefone que me passou não existe. Aliás, você chegou a conferir o endereço?", perguntou desconfiado. "Não. Mas logo eu dou um jeito" justifiquei, sem saber o que fazer para pagar a cobrança. "Parece que tenho uma nova dívida", falei a mim mesmo, na tentativa de corroborar a verdade estampada na minha cara. Tem dias que era melhor ter ficado na cama. 

Para esquecer a dor acompanhada de todos os meus problemas, fui assistir pela milésima vez todos os episódios da minha série preferida. Coloquei o último pacote de pipocas no microondas. Aliás, sempre tive algumas dúvidas em relação ao preço da pipoca no cinema. Será que são pipocas de ouro? Mágicas? Extraterrestres? Ou talvez elas venham diretamente de Hollywood, preparadas pelas mãos da Angelina Jolie, através de um teletransporte onde pousam em suas mãos? É por isso que prefiro a pipoca de casa. Ah, lembrei que esqueci de um pequeno detalhe: pagar a conta de luz atrasada. "Pluft!" - cortaram a energia. Vou dormir, assim esse dia ruim acaba mais rápido. 

Prefiro acreditar que mais vale passar dias maus que dias mal vividos. Altos e baixos servem para que você aprenda a valorizar os bons momentos vividos e ter a certeza que o melhor ainda está por vir.

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