20 de dezembro de 2012

Tic Toc cinematográfico



Acomode-se, aperte o play e leia a crônica.

Coloquei o meu chapéu mexicano levemente caído à esquerda, porque assim fica mais agradável. Banhado em suor o tordilho negro pastando ao redor do dono, coberto de um pala com um colorido desbotado, é um flash da realidade transformado num simples quadro pendurado na parede. Dentro da minha cabeça tinha uma bola de feno rolando de um lado a outro, assim como os ares desérticos que sopram lá fora, levantando a poeira do solo que paira nos ares e empurra a porta estilo faroeste da mercearia. A pimenta e outras especiarias mexicanas colocadas num mostruário atraíam a senhora cozinheira com um avental de dois bolsos na parte da frente. O pub entre as Mostardas e o Pinhal recebia três cantores mexicanos com uma maraca em cada punho. - "Não segure a emoção, deixe-a bater aí dentro, pulsar em tuas veias". "Sirva a bebida!", disse ao garçom.

Enquanto senhores sentados em cadeiras giratórias lado a lado no balcão apreciavam a cerveja gelada que descia pelo esôfago no ritmo da acucaratia, um bando de rapazes jogava sinuca numa disputa de quem pagaria a bebida. Caveiras mexicanas podem ter um bom efeito hipnótico, mas os olhos da jovem atendente continham um mistério, um desejo corrompido, uma verdade oculta, talvez reprimida, como aquela vontade suprimida. Não passava de uma ilusão muito bem ilustrada. Mentiras fáceis te fazem bem de certo modo, pois te confortam da realidade, mas é bem melhor encarar a verdade. 

Comecei a andar pelo corredor, pensei em uma música apropriada para o momento e o toca disco na porta de saída tocou a música que eu queria. Sentei em frente a varanda, numa cadeira que pudesse me embalar enquanto eu bebia uma xícara de café para curar a ressaca. O cachorro vira-lata atirado aos meus pés, retratava um pouco do que eu sentia agora. Para onde eu quero ir? Para um lugar onde eu possa me esconder? É uma insaciável procura no escuro. Só quando o velho relógio que imitava o Big Ben tocou, eu despertei. Não passavam de cenas fictícias. Tic toc cinematográfico. Um vazio apertado. Uma memória nunca existida. Eu não saberia mais distinguir ficção da realidade. Estava eu, mais uma vez, jogado de cabeça no fundo do poço, mergulhado no mar da minha insanidade mental. Bang, bang!

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