28 de junho de 2015

A evolução da paquera em 100 anos

A arte de paquerar é uma estratégia inerente ao ser humano na hora da conquista. Muita coisa mudou em cem anos, não apenas os costumes e o comportamento da sociedade de modo geral, mas principalmente no que diz respeito à área dos relacionamentos. Outrora, a demonstração de interesse amoroso consistia em observar à distância o(a) pretendente, antes de haver qualquer tipo de contato físico. 

As mulheres adotavam uma postura mais cautelosa ao escolher um parceiro - caso ela aceitasse seu pedido para dançar nos bailes, era namoro certo. No entanto, a mulher era mal vista na época dançando com outro par, uma vez que a dança representa um alto potencial de formação de casal. Se a iniciativa, o simples ato de observar, notar ou de prestar atenção em alguém partisse dela, ficava mal falada e rejeitada pela sociedade. Assim sendo, as moças geralmente saíam acompanhadas de sua família. Somente os pais concediam a mão da filha em namoro.

Embora ainda haja muitos tabus a serem quebrados, muitos direitos foram conquistados pelas mulheres ao longo das décadas. Conscientes de suas escolhas e responsáveis por seus atos, hoje elas alcançaram maior autonomia em suas vidas pondo fim ao estereótipo de "sexo frágil", com direito à liberdade de locomoção, de religião, de profissão e de expressão. Confira a lista a seguir para saber como ocorreu a evolução da paquera em um século, além de descobrir curiosidades e constatar a mudança de posição da mulher na sociedade atual.


Anos 1900

Os casamentos arranjados, em que a iniciativa de selar a união não parte dos noivos, e sim de seus pais, começam a perder força no início do século XX. Os apaixonados passaram a se conhecer em locais públicos, como bailes, cafés e parques. Quem namorava sério não tinha direito à privacidade. As serenatas eram uma forma de expressar o amor: os mais corajosos tocavam violão para suas pretendentes com juras de amor eterno debaixo da janela e levavam consigo um buquê de flores.


Anos 1910

A partir de então, a boca cala e o corpo fala. Os enamorados criaram um código quase imperceptível de sinais para flertar entre si, dando início às famosas "piscadinhas". A linguagem de gestos e cores - desde coçar a ponta do nariz até a escolha das flores - têm um significado. A cor vermelha indica paixão, desejo, ímpeto. Piscar o olho, portanto, é uma forma de paquera. Só os homens podiam tomar a iniciativa. Se essa atitude partisse das mulheres, elas estariam se "oferecendo". Por muito pouco, ficavam mal faladas e rejeitadas pela sociedade, mas ninguém deixava de namorar por causa disso.


Anos 1920

O acesso direto era algo muito raro de acontecer. Se um rapaz queria marcar encontro ou se a moça quisesse entregar uma carta de amor, recorriam ao intermédio de uma terceira pessoa que servia de "pombo correio" levando mensagens, entregando cartas e marcando encontros, tudo para ajudar no início do namoro e facilitar a aproximação. O papel da "alcoviteira", exercido por um membro feminino da família, geralmente de parentesco distante (tia, prima ou madrinha, por exemplo), ficava de leva e traz. Pelo mesmo motivo, ganhava o título de fofoqueira.


Anos 1930

Se um rapaz se encantasse por uma moça, seu primeiro grande "desafio" era conquistar seus pais para obter o consentimento do namoro. Se recebesse a confiança de seus tutores, já podiam sair juntos. O rapaz tinha que buscar a donzela em casa e levá-la de volta, junto com um membro da família que deveria estar lhe acompanhando, antes das nove da noite. Depois disso, a regra é: cada um na sua casa. O primeiro contato sexual podia ser desastroso antes do casamento, pois o rapaz estaria jurado de morte. A castidade da filha era motivo de honradez para a família, pois as mulheres deviam pendurar na janela o lençol manchado de sangue após a noite de núpcias para mostrar que casou virgem.


Anos 1940

Agora podem namorar no portão de casa. Mas os pombinhos não deixavam de ser vigiados constantemente pelos pais, que cuidavam com atenção o casal para ver se eles não iriam "infligir" os rigorosos padrões de comportamento da época. No máximo podiam dar um beijo na mão, além disso, os namoros tinham um tempo de duração para não causar má impressão e manchar a reputação da moça. Ao alcançar certa idade, a donzela passava automaticamente de noiva "prometida" a esposa. O término de uma relação era motivo de vergonha para a família, uma vez que já se levantavam suspeitas. Muitas mulheres obrigavam-se a continuar o resto de suas vidas num casamento infeliz por causa desse conservadorismo. 


Anos 1950

Da frente de casa, a visita dos namorados passou para o sofá da sala, porém com pouca liberdade. A família da moça elegia um membro qualquer, geralmente a avó ou o irmão caçula, para "segurar vela" e impedir que o casal ficasse a sós, ainda alvejado sob os olhares atentos dos pais para ver se os dois não estavam "fazendo o que não deviam". Nesta época, as meninas mais levianas ganhavam apelidos depreciativos dos rapazes como "maçaneta", "corrimão" e "vassourinha" - quer dizer que são fáceis de serem conquistadas, que andam passando de "mão em mão" - expressões populares. O sexo antes do casamento era condenado. 


Anos 1960

A década de 60 foi um divisor de águas no campo afetivo com a chegada da pílula anticoncepcional ao Brasil e o desenrolar do movimento "Hippie". Em tempos de "É proibido proibir", os jovens lutavam pela liberação das drogas, pela extinção da família e pelo amor livre. Logo começaram a experimentar de tudo um pouco em festas, clubes e universidades. O namoro sofreu grandes mutações. Com a revolução dos costumes, seus limites foram ampliados e o sexo acabou banalizado. As moças solteiras que engravidavam, muitas vezes eram obrigadas pela família a sair de casa e a mudar de cidade porque eram motivo de vergonha. Com o uso do anticoncepcional, os jovens começaram a tomar a libertinagem por liberdade, o que os levou a acreditarem que podiam manter relações sexuais descompromissadas, sem medirem as consequências.


Anos 1970

Os anos 70 foram um marco decisivo no avanço das relações humanas, sem pudor. Os beijos tornaram-se mais demorados, as carícias mais íntimas e as relações mais precipitadas. Em contrapartida, os relacionamentos tornaram-se mais efêmeros, seguindo a velha teoria: "O que vem fácil, vai fácil". Na década de 70, teve o surgimento da "Pornochanchada", um gênero de cinema brasileiro levando muita gente à loucura com a exploração do erotismo, cenas de nudez e insinuações maliciosas, lotando as salas de cinema. Assim, a virgindade deixou de ser tabu entre os jovens. Alguns casais de namorados, ainda impedidos de transar pelos pais, recorriam a motéis. O movimento feminista e a luta pela igualdade de gênero ganham força no Brasil.


Anos 1980

A descoberta do vírus da AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis (DST's) obrigou rapazes e moças a repensarem seu comportamento sexual. Os jovens não podiam mais transar livremente e os casais de namorados que pretendiam levar uma vida sexualmente ativa adotaram o uso de preservativos, item obrigatório. Havia muitas festas onde os casais dançavam músicas lentas juntos. Geralmente as mensagens eram passadas por cartas ou bilhetes, além de ser comum ficarem horas a fio pendurados no telefone fixo e/ou orelhão. Levar a menina no cinema era o grande objetivo de todo garoto. No final da década de 80, o finlandês Jarkko Oikarinen criou o primeiro site de relacionamento, o antigo IRC (Internet Relay Chat), dando início à extensão das relações de namoro e paquera do mundo real para o virtual.


Anos 1990

Não muito diferente dos dias de hoje. A internet começa a estimular encontros através de sites de relacionamento e salas de bate-papo. No mundo real, os bares e danceterias são muito frequentados nos finais de semana por solteiros em busca de um relacionamento. Os jovens saem à procura de "ficantes", de relacionamentos fugazes e de sexo sem compromisso. Os meninos podem "ficar" com várias garotas, ou vice-versa. Os anos 90 também têm suas gírias e dialetos particulares, como "azaração" e "xaveco" - indicam namoro e flerte, respectivamente. Os presentes preferidos dos namorados eram os discos de vinil, os perfumes e as roupas. As questões acerca dos limites da categoria de gênero e cor passam a ser incorporadas pela sociedade.


Anos 2000

Tudo ficou liberal. Pode-se dizer: "andar com", "sair com" e "ficar com". A balada tornou-se um ambiente de "caça". Os jovens passam a escrever torpedos e investem cada vez mais seu tempo com a paquera online, como decorrência do uso de celulares e a popularização da internet. Segundo um estudo da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, 81% dos internautas costumam mentir nas redes sociais (eles, sobre a altura, e elas, o peso). Isso tudo para impressionar ou tentar conversar com alguém em especial. Já a pesquisa "Flertebook" realizada pelas agências Blue Id e New Vegas, revelou que quase metade (48,2%) dos usuários do Facebook usa a rede social para conseguir namorados e "ficantes".


Dias de hoje

A maioria das pessoas deseja que as coisas ocorram num movimento mais acelerado e valorizam muito tudo o que é "fast": da comida expressa até os amores instantâneos. No fundo, todos querem "estar junto", mas talvez não saibam nem do que, nem de quem. Redes sociais e aplicativos como o Tinder, permitem conhecer e paquerar outras pessoas num "match". A paquera virtual se estende para o mundo real. Com isso, muitos casais enfrentam problemas e desafios proporcionados pela tecnologia. Uma pesquisa da Universidade de Guelph, no Canadá, aponta que a maioria das brigas entre casais são motivadas pelo ciúmes e estão relacionadas com atividades nas redes sociais.


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