7 de outubro de 2016

Médico elabora projeto para dar suporte a cuidadores de pacientes com demência

Quando a gente faz aquilo que realmente gosta o trabalho se torna prazeroso. Seguindo esse pensamento, o médico neurologista, professor universitário e pesquisador Artur Francisco Schumacher Schuh, 32, residindo atualmente em Porto Alegre, vem fazendo descobertas importantes na área da saúde. Paralelamente ao estudo da farmacogenética da doença de Parkinson, o médico elabora um projeto bastante diferente do que costumava fazer: avaliar a efetividade de um serviço de suporte psicossocial a distância para cuidadores familiares de pacientes com demência.


Em 2015 Artur Schuh foi premiado na Noite dos Destaques por competência profissional. O evento foi promovido pelo Jornal do Povo e realizado na Sociedade Rio Branco.

CUIDADOS A QUEM TAMBÉM CUIDA

Artur constatou que no Brasil a maior parte do cuidado dos pacientes com demência fica a cargo das famílias e, nessas, tem sempre um membro que fica sobrecarregado. “Esse cuidador sobrecarregado prejudica a sua própria saúde e a saúde do paciente”, esclarece. Tendo em vista essa situação, a ideia é diminuir a sobrecarga, melhorar a saúde do cuidador e reduzir o aparecimento de comportamentos difíceis no paciente. Segundo o médico, esse serviço de suporte será realizado através de ligações telefônicas programadas e com a aplicação de intervenções psicoeducativas (grupos de apoio com profissionais especializados) já bem estabelecidas na orientação presencial. 

“Sou obstinado com o trabalho e dele consigo extrair não apenas o sustento, mas também grande parte da satisfação pessoal. Acredito que a pesquisa e a inovação são os pilares fundamentais para a soberania e desenvolvimento de qualquer nação” - Artur Schuh.

AUMENTO DA POPULAÇÃO ANCIÃ


Segundo Artur, em 2050 a maior parte da população brasileira vai ter mais de 60 anos de idade. Com isso, vamos ter um aumento das doenças relacionadas ao envelhecimento. Para ele, o processo de envelhecimento populacional é inexorável, mas isso traz um enorme desafio para as áreas econômica, social e médica. “Como vamos sustentar nosso sistema previdenciário?”, questiona. “As linhas de pesquisa que eu desenvolvo se justificam nesse panorama e são uma tentativa de melhorar o cuidado aos pacientes com essas condições”, explica. 

OS DESAFIOS DA PESQUISA NO BRASIL 

“Ao longo dos últimos anos conquistamos um lugar interessante no ranking de pesquisa internacional, ainda muito aquém do desejável”, diz Artur, que é financiado pelo Hospital de Clínicas e por agências nacionais de fomento, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Infelizmente nossos governantes muitas vezes veem a pesquisa como um gasto supérfluo, e é uma das primeiras áreas que acaba sofrendo com qualquer crise econômica”, denuncia.

RAIO X

Artur Schuh ingressou na residência médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre em 2011, possui mestrado em ciências médicas e doutorado em genética e biologia molecular pela Ufrgs, onde atua como professor do curso de pós-graduação em Ciências Médicas e professor adjunto de Farmacologia Médica. Em 2014 ele recebeu o Prêmio Academia Brasileira de Neurologia, órgão representativo de todos os neurologistas do Brasil que a cada dois anos outorga esse prêmio para a melhor tese de doutorado na área da neurologia, intitulada “Farmacogenética da levodopa na doença de Parkinson”. Artur é preceptor (responsável por conduzir e supervisionar) dos ambulatórios de Transtornos do Movimento e de Neurologia Cognitiva. Além de elaborar projetos, conduzir a realização de estudos e orientar alunos de iniciação científica e de pós-graduação, produz artigos científicos para a comunidade e dedica um turno por semana para atender pacientes no consultório.

2 PERGUNTAS PARA ARTUR

POR QUE VOCÊ ESCOLHEU A ÁREA DA NEUROLOGIA?

“Sou um neurologista com interesse especial em doenças neurodegenerativas e do envelhecimento. Condições como doença de Alzheimer e doença de Parkinson são comuns no meu dia a dia. Sempre tive grande interesse em estudar os processos biológicos subjacentes à essência do ser humano - aquilo que explica nossa consciência, sentimentos e comportamentos perante o mundo -, que, em última análise, são determinados pelo nosso sistema nervoso. Depois, ao longo da formação médica fui percebendo que a prática da neurologia combinava bastante com o meu perfil”. 

QUAL É O SEU CAMPO DE INTERESSE DE ESTUDO? COMO ESTÁ O BRASIL NESTE SEGMENTO?

“Meu principal campo de estudo é em farmacogenética da doença de Parkinson. Nada mais é do que tentar encontrar explicações no nosso DNA para os motivos que fazem com que dois pacientes respondam de maneira diferente ao mesmo medicamento. O objetivo final é conseguir produzir um exame genético que possa guiar o médico na hora em que for prescrever um medicamento. Infelizmente, esse objetivo ainda está longe de ser alcançado. A pesquisa em farmacogenética no mundo todo é ainda pequena se considerarmos a importância que os remédios têm na nossa vida. Especialmente em relação à doença de Parkinson, são poucos os grupos ao redor do mundo que trabalham nessa mesma linha. O que estamos inicialmente fazendo é entender melhor como os genes influenciam a resposta aos fármacos. Entretanto, para a aplicação prática desses conhecimentos muita pesquisa ainda é necessária”.

CUIDADO ESPECIALIZADO 

Conforme o médico, os cuidadores também terão à sua disposição um serviço 0800 para tirar dúvidas sobre o cuidado. “Se a nossa intervenção demonstrar efeito positivo é uma grande oportunidade para disseminar conhecimento e cuidado especializado mesmo para comunidades distantes e carentes”, salienta. Para Artur, o impacto de uma intervenção desse tipo em um país com dimensões continentais como o nosso tende a ser grande.

Fonte: Revista Linda - ano 9, nº 105, agosto 2016 (adaptado).

Texto: Gabriel Rodrigues.

Revisão: Marielle Rodrigues de Oliveira.

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