22 de março de 2017

É antigo, mas é legal: a paixão por antiguidades

Por que jogar fora se você pode restaurar? O que para alguns é lixo, para outros é paixão. Revirando o baú você pode encontrar peças, brinquedos, livros e outros objetos antigos que não vê há muito tempo e talvez nem se lembrasse de sua existência. Eles poderiam ser doados, mas há coisas que carregam um valor sentimental, por isso, às vezes, é difícil passá-las adiante. Confira relatos de leitores que têm grande apreço por relíquias e não se desfazem delas por nada.

PAIXÃO PELO ANTIGO

Apaixonado por veículos antigos e relógios a corda, o estudante de Sistemas de Informação Patrick Scherer Fontoura, 22, é um dos organizadores do clube de fusca de Cachoeira do Sul Air Cooled Club, no Rio Grande do Sul. Sua relação com este veículo começa na infância, quando assistiu ao filme “Se meu fusca falasse” (1968). “A paixão foi instantânea, e como sonho de menino, coloquei na cabeça que um dia eu teria um fusquinha. A partir dali fui juntando dinheiro”, conta. Terminada a carteira de habilitação, Patrick adquiriu seu primeiro fusca, um Volkswagen 1300, carinhosamente chamado de Laranja Mecânica.


Patrick com o seu maior xodó: um fusca laranja

O estudante acredita que uma boa parcela de cachoeirenses aprecia antiguidades. Tal como mostrado no poema “Vou-me embora pro passado”, de Jessier Quirino, Patrick fala que é importante preservar o passado, pois, para ele, preservar o que é antigo é manter vivas as lembranças que aquele objeto traz para cada um. 

Patrick afirma que a fama do fusca se dá pela sua simpatia e robustez, pois vemos carros deste modelo com mais de 50 anos rodando pela cidade. “As histórias dos fuscas fazem muitas pessoas lembrarem, por exemplo, de pais e familiares que tiveram”, justifica.

O CLUBE 


Foto aérea do encontro de fuscas ao redor do Chatodô, cartão-postal de Cachoeira do Sul

Segundo Patrick, o clube era uma ideia que já vinha sendo fomentada há algum tempo. “No começo o grupo reunia mais ou menos uns 10, hoje já estamos beirando os 40 associados. Ainda temos alguns companheiros da região, como Paraíso do Sul, Novo Cabrais e Agudo”, destaca. Os encontros acontecem todos os domingos em postos de gasolina ou praças. 

VINTAGE X RETRÔ

Vintage: peças pertencentes a outras décadas, pertenceu a seus avós ou bisavós.

Retrô: peças novas produzidas com estilo antigo, um relançamento.

Fonte: blog Vintage e Retrô.

FANÁTICA POR ÔNIBUS

A estudante de Psicologia Luciane Barbosa da Rosa, 22, que trabalha na empresa Transportes Nossa Senhora das Graças (TNSG), uniu a paixão pelos ônibus com a profissão. Luciane é uma busóloga, que nada mais é do que um hobby de pessoas que são grandes apreciadoras de ônibus. Essas estudam a história dos ônibus, os sistemas de transportes, as empresas operadoras, seus fabricantes, motores e carrocerias, colecionando miniaturas, desenhos, pinturas e fotografias e participando, ainda, de encontros, exposições e debates ligados aos mesmos. “Os busólogos amam estar nos ônibus, ouvir os sons dos motores, e reconhecem seus ônibus preferidos pelo som. São pessoas que vivem buscando informações acerca dos mesmos e não se cansam nunca”, resume.


Busóloga, Luciane sonha em ter a sua própria frota de ônibus

COLEÇÃO DE MINIATURAS – Luciane é apaixonada por ônibus desde os 12 anos de idade e aos 17 começou a fotografá-los. A partir de então decidiu que seu sonho era ser cobradora para, assim, ficar mais perto deles. “Como cobradora, meu amor por ônibus só cresceu”, conta a estudante, que mesmo não ocupando mais este cargo não fica longe dos coletivos. Além dos ônibus, Luciane aprecia carros antigos, trens, navios e aviões, desde os primeiros modelos até os atuais. “Tenho uma coleção de ônibus e aviões em miniatura que guardo com maior carinho e amor do mundo”, disse.

DAS PLANTAÇÕES ÀS TVS

Quem conhece o empresário Silvio Mendes da Silveira, 71, sabe que ele vive no meio das TVs, não dentro das telas, mas nos seus circuitos. Isso porque ele atua há 47 anos no ramo da eletrônica consertando aparelhos como TVs de tubo, LCD, plasma e LED, DVDs, sons e fornos micro-ondas. “Comecei consertando rádios de pilha, que é a mesma coisa que celular hoje”, lembra.


Há quase cinco décadas consertando TVs, Silvio exibe uma Philips CTO (mais à frente) projetada na Holanda e fabricada no Brasil, super-resistente a queda de luz, raridade da década de 70 que permanece funcionando até hoje

Natural de Encruzilhada do Sul (RS), Silvio foi agricultor, mas deixou as plantações de trigo devido às dificuldades para se dedicar ao reparo de eletrodomésticos, principalmente televisões, das antigas até as mais novas. Na década de 60, Silvio trabalhou na Comunicação Social do Exército Militar, como operador de rádio. A partir de então, fez vários cursos de eletrônica, de especialização e análise de circuitos.

TVS ANTIGAS X TVS MODERNAS

Segundo o empresário, um dos defeitos mais comuns apresentados pelos televisores são as quedas de energia elétrica. “A rede é de dois fios na cidade e toda vez que há queda dá uma descarga elétrica na TV”, explica. Silvio fala que as TVs antigas levam vantagem nesse sentido, isso porque elas são mais resistentes que as modernas. “Elas têm peças rústicas, que são mais resistentes. As novas têm microprocessadores que são mais sensíveis”, justifica. Para Silvio, conservar antiguidades é preservar a história para, assim, passá-la às novas gerações.

DE PAI PARA FILHO

O comerciante Carlos Alberto Marques Borges, 42, coleciona itens relacionados à indústria automobilística, como miniaturas, e junto a estes itens alguns carros, motos, bicicletas, placas decorativas e motores. Ele e o pai têm muito mais do que o mesmo nome em comum: a paixão por automóveis. “Por acompanhá-lo desde pequeno na manutenção de seus carros, montamos uma oficina própria para a restauração de nossos veículos”, orgulha-se.


“Cada carro antigo que adquirimos é como um integrante da família. Não são escolhidos, vão surgindo e ocupando seu lugar”, fala Carlos Alberto ao lado de um Ford Sedan Modelo A 1929 quatro portas

VALORIZAR O QUE TEMOS 

Carlos acredita que a população de Cachoeira não aprecia como deveria seu patrimônio antigo, pois, para ele, se assim fosse não estaríamos com as praças da cidade no mau estado de preservação em que se encontram, nem teriam carros lanches e camelódromos, já que esses estragam o visual dos espaços. 

“Não vejo carros antigos nas ruas, vejo carros velhos, os antigos ficam guardados (e bem guardados), só saindo em ocasiões especiais”, observa. Para o comerciante, a importância de preservarmos o passado é para sabermos de onde viemos e apreciar o devido valor aos avanços que tivemos.

Fonte: Revista Linda - ano 9, nº 110, janeiro e fevereiro de 2017 (adaptado).

Texto: Gabriel Rodrigues.

Revisão: Marielle Rodrigues de Oliveira.

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