De todos os nossos órgãos vitais, o cérebro certamente é um dos mais complexos e fascinantes. Cerca de três vezes maior do que o tamanho médio do cérebro dos primatas, com volume superior a um litro (pesando entre um e dois quilos) e de consistência gelatinosa, ele é responsável pelo pensamento e movimento produzidos pelo corpo, entre outras funções que têm sido amplamente estudadas. No entanto, essa “super máquina” também apresenta os seus defeitos, precisando de reparos que podem exigir até cirurgia. Nesses casos, a responsabilidade será de uma equipe especializada composta por médico neurocirurgião. Esse profissional trata de diversas doenças que atingem o sistema nervoso central e periférico.
No município de Chapecó, em Santa Catarina, o médico gaúcho Marcelo Lemos Vieira da Cunha, 37, sendo quatro anos de atuação, vem se destacando na área da neurocirurgia, especificamente no procedimento neuroendoscópico (cirurgia com acesso ao crânio por vídeo) e no tratamento de neuro-oncologia (tumores cerebrais). Natural de Cachoeira do Sul, Marcelo é graduado em Medicina pela UFSM em 2005 e atualmente chefe do serviço de neurocirurgia no Hospital Regional do Oeste, unidade onde emprega técnicas avançadas neurocirúrgicas à população local acompanhando e realizando a vanguarda nos cuidados com a saúde do cérebro.
Marcelo é um dos oito neurocirurgiões do Hospital Unimed e Hospital Regional do Oeste em Chapecó, onde foi criado o primeiro ambulatório de neuro-oncologia do estado com a presença concomitante do neurocirurgião, oncologista e rádio-oncologista para dar assistência aos pacientes com tumores cerebrais.
ESPECIALIZAÇÃO NOS EUA
Ele é professor de Neurociências da Universidade Comunitária Regional de Chapecó (Unochapecó), vice-presidente da Sociedade Catarinense de Neurocirurgia (SCAN), membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e com fellowship (espécie de estágio) no Barrow Neurological Institute, em Phoenix, nos Estados Unidos, centro de medicina americano considerado um dos maiores no mundo em conhecimento e desenvolvimento de técnicas inovadoras nesse campo médico. “No Barrow Neurological Institute fomos familiarizados a todo arsenal tecnológico de que a neurocirurgia dispõe. Alguns ainda não disponíveis por aqui”, conta.
A BUSCA POR FORMAÇÃO DE QUALIDADE
Para Marcelo, o mais interessante dessa experiência foi o treinamento em cadáveres em laboratórios extremamente bem equipados e melhores que a maioria dos centros cirúrgicos no Brasil, como ele mesmo define. “A falta de burocracia e incentivo ao ensino médico são o que alavancam a medicina norte-americana, enquanto por aqui os entraves vão se acumulando e o ensino de qualidade acaba prejudicado, forçando, sobretudo, as especialidades cirúrgicas a buscarem alternativas em sua formação fora do país”, destaca.
PROFISSÃO X FAMÍLIA
O médico reconhece que leva uma rotina exigente, pois as cirurgias costumam ser mais demoradas que as demais especialidades. “Durante a semana ficamos no mínimo 12 horas em função da profissão. Isso nos dias em que tudo dá certo (risos)”, fala. Segundo Marcelo, as atividades e cuidados neurocirúrgicos incluem sábados, domingos e feriados, por isso é preciso muita compreensão e entendimento da família e dos amigos, já que as horas de lazer são escassas. “A cada 45 dias viajo seja a cursos ou congressos, me ausentando do lar. Quando estou em casa fico envolvido na organização de eventos na nossa região, o que também exige tempo”, relata.
“Chapecó tornou-se referência de metade do estado de Santa Catarina para neurocirurgia oncológica pediátrica, cobrindo de Curitibanos, no centro do estado, até Dionísio Cerqueira, na divisa com a Argentina”.
Marcelo Lemos Vieira da Cunha
NEUROLOGISTA OU NEUROCIRURGIÃO?
Embora a população em geral e até outros médicos usem a titulação “neuro” quando se fala em neurologista ou neurocirurgião, Marcelo explica que se tratam de duas especialidades diferentes, mas é comum a interação entre essas duas áreas. De acordo com ele, o neurologista possui um treinamento de três anos geralmente voltado para as afecções (alterações patológicas) do sistema nervoso com tratamento clínico, como a doença de Alzheimer, esclerose múltipla e polineuropatias (distúrbios neurológicos de nervos). Já o neurocirurgião possui um treinamento de cinco anos em patologias cirúrgicas do sistema nervoso, dentre elas tumores, aneurismas cerebrais e afecções da coluna vertebral.
3 PERGUNTAS PARA MARCELO LEMOS VIEIRA DA CUNHA
Quais são os benefícios da neuroendoscopia?
“A neuroendoscopia se alinha à tendência de cirurgia minimamente invasiva. O conceito básico é de que aproveitamos cavidades pré-formadas para acesso a lesões através de uma câmera e material de trabalho adequado. No caso da neurocirurgia, podemos lançar mão deste método através do ventrículo para tratamento de pequenos tumores e/ou sangramentos intraventriculares (cavidade natural existente no cérebro), através de uma pequena perfuração no crânio de um a dois centímetros ou também cavidades do nariz e/ou da boca. Como o ‘corte’ é mínimo, geralmente a recuperação é muito mais rápida que a cirurgia convencional, ocasionando altas precoces, resultando em um menor custo ao Estado/convênio”.
Como está o andamento do projeto de criação do centro de tratamento de epilepsia que você encaminhou para Brasília?
“Fizemos o projeto, mas devido à morosidade pública ainda não obtivemos êxito nesse sentido, mas nesse meio tempo conseguimos outras conquistas para a neurocirurgia de Chapecó e região”.
Quais são os seus projetos futuros?
“No setor privado (Hospital Unimed em Chapecó) já dispomos de toda a gama de aparelhos para o tratamento neurocirúrgico. O fato relevante é de que no setor público também rumamos nesse sentido. Nosso hospital público está sendo ampliado e passará dos 319 leitos atuais para 475, tornando-se o maior hospital do estado. Haverá 54 leitos de UTI e 19 salas cirúrgicas, das quais duas serão exclusivas da neurocirurgia, com o que se imagina diminuir filas hoje existentes no sistema público para patologias neurocirúrgicas, além da aquisição de novos equipamentos, o que nos permitirá oferecer ao nosso paciente um tratamento de primeira linha. Outro ponto é a abertura do serviço de residência médica em neurocirurgia. E neste ano pretendo fazer a prova de admissão para o doutorado na Universidade Federal do Paraná (UFPR) também na área de tumores do sistema nervoso central”.
Fonte: Revista Linda - ano 9, nº 110, janeiro e fevereiro de 2017 (adaptado).
Texto: Gabriel Rodrigues.
Revisão: Marielle Rodrigues de Oliveira.
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