Foto: Folha de São Paulo.
Na parte alta de São Paulo, um prédio em formato espiral poderia ser visto de longe, não por sua arquitetura imponente e aparência luxuosa que todos estão acostumados a enxergar na região mais abastada do centro da cidade. Lá não tem cozinheiras, mordomos e faxineiras, mas gente que cozinha o próprio feijão, lava e estende a própria roupa na janela e limpa por dentro porque não precisa ser apreciado por fora. Tipos de materiais diferentes são dispostos lado a lado como em uma grande obra de ladrilhos coloridos. Esta é a primeira impressão que temos ao olhar para o prédio tomado por pessoas a se organizar cada uma em seu quadrado, como em um grande formigueiro frenético que nunca dorme.
Papelão, tijolo, vidro, tudo se torna uma parte da parede. Cortinas de plástico em quase todas as janelas, algumas parecendo terem saído de uma festa junina. Alguns poucos privilegiados contam com um ar condicionado, que mesmo sendo barulhento, passa despercebido no meio de tanta "muvuca". Gritos de um lado do relacionamento mal resolvido, gritos do outro lado do gol decisivo, a mãe xingando o filho, o filho no quarto com os amigos escutando o som tão alto que treme a fina parede do vizinho. É uma experiência sonora digna de sinfonia, caso não faltasse o maestro. Desse jeito cada um segue na sua própria melodia.
Helicópteros roubam a cena por um breve instante e logo se escuta a pergunta do andar de cima: - "A água já voltou, vizinha?". Lá da outra ponta alguém grita e fala que é culpa da Dilma. O cheiro bom de comida se mistura ao doce aroma de roupa lavada, se não fosse o detalhe da privada entupida, tudo seria uma maravilha. No ar também se dissipa o cheiro de ervas naturais misturado com grandes gargalhadas.
Volta e meia rola discussão por lá, bala perdida em tiroteio e atividades ilícitas. Enquanto alguns estendem a mão para ajudar um vizinho quando podem, outros vivem isolados, querendo mesmo é cuidar das próprias vidas. O gato de energia elétrica, o sinal de Wi-Fi roubado, a euforia da criançada, o buraco na parede, a janela quebrada na varanda, a infiltração no teto, a falta de segurança e de privacidade. Uma diversidade não só visual, mas sonora e olfativa. Cada dia é como um novo experimento de algum cientista maluco, prestes a estourar uma bomba. E assim segue a harmonia caótica no tumultuado prédio no centro de São Paulo.
* O texto foi inspirado no Edifício Copan. Trata-se de uma análise descritiva da imagem apresentada acima, sem compromisso com a verdade.
Papelão, tijolo, vidro, tudo se torna uma parte da parede. Cortinas de plástico em quase todas as janelas, algumas parecendo terem saído de uma festa junina. Alguns poucos privilegiados contam com um ar condicionado, que mesmo sendo barulhento, passa despercebido no meio de tanta "muvuca". Gritos de um lado do relacionamento mal resolvido, gritos do outro lado do gol decisivo, a mãe xingando o filho, o filho no quarto com os amigos escutando o som tão alto que treme a fina parede do vizinho. É uma experiência sonora digna de sinfonia, caso não faltasse o maestro. Desse jeito cada um segue na sua própria melodia.
Helicópteros roubam a cena por um breve instante e logo se escuta a pergunta do andar de cima: - "A água já voltou, vizinha?". Lá da outra ponta alguém grita e fala que é culpa da Dilma. O cheiro bom de comida se mistura ao doce aroma de roupa lavada, se não fosse o detalhe da privada entupida, tudo seria uma maravilha. No ar também se dissipa o cheiro de ervas naturais misturado com grandes gargalhadas.
Volta e meia rola discussão por lá, bala perdida em tiroteio e atividades ilícitas. Enquanto alguns estendem a mão para ajudar um vizinho quando podem, outros vivem isolados, querendo mesmo é cuidar das próprias vidas. O gato de energia elétrica, o sinal de Wi-Fi roubado, a euforia da criançada, o buraco na parede, a janela quebrada na varanda, a infiltração no teto, a falta de segurança e de privacidade. Uma diversidade não só visual, mas sonora e olfativa. Cada dia é como um novo experimento de algum cientista maluco, prestes a estourar uma bomba. E assim segue a harmonia caótica no tumultuado prédio no centro de São Paulo.
* O texto foi inspirado no Edifício Copan. Trata-se de uma análise descritiva da imagem apresentada acima, sem compromisso com a verdade.
Excelentes arquiteturas floresceram na época de ouro de São Paulo. A cidade tem um legado de edifícios projetados por dois vencedores do prêmio Pritzker internacional de arquitetura, Paulo Mendes da Rocha e Oscar Niemeyer, tendo este último concebido o Parque Ibirapuera, um dos parques mais emblemáticos da cidade e a construção Copan. Com o declínio do Centro Novo nos anos 1970, o edifício entrou em decadência chegando a ser considerado um cortiço vertical.
Texto: Gabriel Rodrigues e Gabriel Jr.
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